No mundo todo, aproximadamente 13 milhões de hectares de florestas perecem sob lâminas ou fogo todos os anos. Esse desmatamento há muito tempo vem sendo causado por fazendeiros que sobrevivem pormeio do corte e queima ou por madeireiros usando novas estradas para invadir florestas virgens. Mas novos dados parecem mostrar que, pelo menos nos primeiros cinco anos do século 21, os grandes blocos de clareiras, que refletem o desmatamento industrial, agora dominam, ao contrário dos esforços de pequena escala que deixam atrás de si faixas longas e estreitas de terra nua.

A geógrafa Ruth DeFries da Columbia University e seus colegas usam imagens de satélite do Landsat, junto com o instrumento Modis (Espectroradiômetro de Resolução Moderada de Imagens, em inglês) em Aqua para analisar o desmatamento nos países que circundam os trópicos, o que representa 98% de toda a floresta tropical remanescente. Em vez da clássica assinatura “espinha de peixe” do desmatamento causado por operações em pequena escala, grandes e densos blocos de terra nua revelam uma mudança nos agentes causadores da derrubada de árvores: grandes empresas atendendo à demanda urbana.

Na verdade, uma análise estatística de 41 países revelou que a taxa de perda de florestas tem uma ligação mais estreita com o crescimento da população urbana e com exportações agrícolas de 2000 a 2005 – nem mesmo o crescimento total da população foi um agente tão forte nesse quesito. “Nas décadas passadas, o desmatamento esteve associado com colonização planejada, projetos de reassentamento e fazendeiros locais limpando a terra para conseguir alimentos para subsistência”, afirma DeFries. “O que estamos observando é uma mudança: antes eram os fazendeiros de pequena escala que causavam o desmatamento e, agora, os maiores agentes causadores são as distantes demandas do crescimento urbano, comércio agrícola e exportações.”

Em outras palavras, a crescente urbanização dos países em desenvolvimento – bem como um aumento constante no consumo, nos países desenvolvidos, de produtos que têm impacto em florestas, sejam móveis, couro para sapatos ou frangos alimentados com farelo de soja – está causando o desmatamento, mais do que contendo o mesmo, conforme a população deixa as áreas rurais para se concentrar nas cidades em crescimento. “Uma das características mais marcantes deste século é a urbanização e o rápido crescimento urbano dos países em desenvolvimento. As pessoas nas cidades precisam comer.”

“Não é surpresa nenhuma”, observa Scott Poynton, diretor executivo do Tropical Forest Trust, organização com base na Suíça que ajuda homens de negócios a implementar e gerenciar silviculturas sustentáveis em países como Brasil, Congo e Indonésia. “O problema não são pessoas pobres cortando árvores. O problema são as pessoas em Nova York, na Europa e em outros lugares querendo produtos baratos, principalmente comida”.

 

Para ajudar a sustentar essa crescente demanda urbana e global, a produtividade agrícola terá que ser aumentada em terras que já foram limpas, como muitas terras degradadas e abandonadas dos trópicos, argumenta DeFries, seja por meio de melhores variedades de cultura ou melhores técnicas de administração. E o Tropical Forest Trust está criando melhores sistemas de gerenciamento para evitar que a madeira retirada ilegalmente acabe em, por exemplo, espreguiçadeiras, bem como expandindo seus esforços para ver como reduzir as “pegadas na floresta” dos produtos agrícolas, como o óleo de palma. “É nas coisas agrícolas que o desmatamento ocorre”, afirma Poynton. “A idéia é dar valor às florestas enquanto florestas: mantê-las como florestas e dar-lhes uso dessa forma. Não vão transformá-las em Parques Nacionais, isso simplesmente não vai acontecer”.

É claro que o desmatamento florestal permitiu que florestas crescessem novamente em outras áreas, incluindo terras tropicais anteriormente limpas. E o desmatamento florestal na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, caiu de cerca de 1,9 milhão de hectares por ano na década de 1990 para 1,6 milhão de hectares por ano na última década, de acordo com o governo brasileiro. “Nós sabemos que a velocidade de desmatamento diminuiu pelo menos na Amazônia brasileira desde a época dos dados do nosso estudo”, observa DeFries. “Observamos 41 países. Cada lugar é diferente. Cada país tem sua própria situação, circunstâncias e agentes causadores”.

Apesar disso, o desmatamento é uma das maiores causas das emissões de gases causadores do efeito estufa gerados pela atividade humana – um golpe duplo, que tanto elimina um sistema biológico que absorve CO2 quanto cria uma nova fonte de gases estufa na forma de plantas em decomposição. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que retardar esse desmatamento poderia recuperar cerca de 50 bilhões de toneladas métricas de CO2, ou mais de um ano de emissões globais. Além disso, as negociações internacionais continuam a tentar conseguir um sistema para atingir esse objetivo, conhecido como fundo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para reduzir emissões causadas pelo desmatamento e por degradação florestal em países em desenvolvimento (REDD, na sigla em inglês).

“Se é para políticas [como o REDD] serem eficientes, precisamos entender o que está comandando as forças por trás do desmatamento”, comenta DeFries, e há novas pressões iminentes. “A competição para usar terras para outros produtos, como biocombustíveis, aumentará ainda mais a pressão sobre as florestas tropicais”, escreveram os pesquisadores. Mas, de acordo com uma nova análise, milhões de hectares de floresta virgem permanecem potencialmente a salvo– 60% das florestas tropicais restantes estão em países ou áreas com pouco comércio agrícola ou crescimento urbano.

“A quantidade de áreas florestais em locais como a África central, Guiana e Suriname”, nota DeFries, é enorme. “Há muitas florestas que ainda não encontraram esse tipo de pressão.”