Memórias
Eu comecei a trabalhar em uma fábrica de tecido. Todas as minhas irmãs trabalhavam lá pois gostavam muito de costura, mas eu era uma inconformada. Queria sempre mais! Tinha sonhos... Queria estudar! Eu sabia que minhas irmãs trabalhavam com dignidade, e às vezes me culpava por achar que estava sonhando demais.
Me lembro bem de quando fui trabalhar em um sindicato dos trabalhadores rurais, eu tinha apenas 15 anos, mas sabia que aquele emprego era o ponto de partida para eu não desistir. Iniciei meus estudos, era duro, trabalha o dia todo e estudava durante a noite. Hoje, olhando para trás, sinto-me uma felizarda. Vivi dias difíceis, porém hoje, sinto-me realizada.
Logo mais tarde, trabalhei em uma transportadora e comecei a tão sonhada faculdade de história, dando início ao meu sonho. Vendo-o ser concretizado através do meu esforço. Acabei me casando, e então pude gerar filhos, o bem mais precioso que uma mulher pode alcançar.
O bairro onde eu morava era sem calçamento, me lembro como se fosse hoje, se um carro passasse no caminho, tínhamos que correr para tirar as roupas penduradas nos varais não sujarem. As casas não tinham luz, usávamos lamparina, e aproveitávamos o dia para olhar bem dentro dos olhos uns dos outros.
Quando criança, as brincadeiras eram as mais divertidas possíveis! Brincávamos de “pé na lata”, “pique”, pulávamos corda, amarelinha, soltávamos pipa e muitas outras brincadeiras... Que tempo bom! Tempo que não pode mais voltar.
Jamais me esquecerei das festas daquela época, em que as paqueras eram somente entre olhares, daquelas longas quadrilhas que o pai e a mãe da gente estavam sempre a nos vigiar. Eu também amava as danças, da qual podia-se brilhar... brilhar por um momento, por uma canção, até talvez o dia raiar. Momentos inesquecíveis, daqueles de tirar o fôlego, de fazer pensar.
Gostaria de ver novamente a inocência daquela juventude, o respeito retornando às casas, os professores sendo valorizados, a escola sendo o ponto de partida para a melhoria de vida, a simplicidade retornando aos olhares, sem ganância, sem maldade...
Ah... que saudade!
Autora: Ana Clara 7º3
Cachoeiro de Itapemirim! Esse foi o lugar onde nasci. No bairro Aquidabã eu cresci, e e recordo bem de como era sereno, de como era inocente e tranquilo. Brincávamos sem grandes medos e as crianças podiam ir até às padarias e quitandas desprovidas de supervisão. As ruas eram de paralelepípedos e no sol da tarde sentíamos o sol esquentar muito. Era uma época boa em que gostávamos de ficar sentada na calçada até tarde conversando. Brincava muito sozinha, nem sempre minha mãe me deixava brincar na rua. Eu sempre gostei de bonecas, criar casinhas e roupas, bonecas de papel com roupinhas para trocar; desenhava e pintava revistinhas. Pulava corda, amarelinha, bambolê, pião, bola de gude, vôlei de roda, peteca, queimada, adoleta, brincadeiras de roda, joguinhos de tabuleiro, baralho... Cantava com meu pai e ele gravava as canções nas fitas k7... Amava colecionar papel de carta. Ainda tenho em meus pertences, uma fita com gravação da época de criança com meu pai, meu coelhinho de quando era bebê, minha Barbie festa e mais alguns outros brinquedos, todos que hoje dei para minhas filhas.
Meu pai não tinha casa própria, então percorremos um longo caminho alugando casas aqui e ali, e assim, pude então explorar os bairros do meu pequeno Cachoeiro, como diz o Rei Roberto Carlos. Além do bairro Aquidabã, morei nas ruas Samuel Levi, Antônio Ganhoto e Goitacazes. Filha de um açougueiro e uma costureira, éramos uma família simples, pobre, mas que nunca passou fome, e isso foi o mais importante.
Sabe, na minha infância, brincávamos muito sem tecnologia, apesar de já existir, mas só os ricos a tinham. A paz na vizinhança... A tranquilidade de deixar uma criança ir à padaria... Como eu gostaria que aquele tempo voltasse! Tempo de tranquilidade, respeito, amizades sinceras e confiança, entre os sentimentos maravilhosos que hoje fazem parte do passado.
Me recordo dos tempos de escola, quando engolia um almoço rápido depois das aulas e ia estagiar. Lembro do dono da padaria próxima que nós comprávamos o pão com mortadela e ele nos dava café ou leite com chocolate. Passados os anos, me formei professora de alfabetização. Como eu amava alfabetizar! Mas a vida não me deixou nesta profissão, então parti para cursinhos de informática. Lá, conheci meu marido que era um dos instrutores. Em 2000 me casei e alguns meses depois descobri que estava grávida. Infelizmente perdi meu primeiro filho, e esse foi um momento muito marcante na minha vida. Nunca imaginei que além dos problemas diários, viveria esse momento tão amargo: Perder um filho. Meu filho completaria hoje vinte anos. Sofri muito a sua perda. Cheguei a ficar sem andar, e ainda comecei a ter hipertensão. Quando me recuperei, decidimos abrir nossa empresa de informática de cursos e manutenção, em 2001. Phoenix Informática, no Coronel Borges. Conciliava as aulas e o trabalho na nossa empresa como instrutora. Passamos alguns apertos, mas deu certo. Hoje é nosso sustento e temos muitos clientes que se tornaram amigos.
Aos 30 anos, em 2008, tive minha primeira filha, nascida de uma gravidez tranquila até chegar aos sete meses onde meu pai precisou colocar um DCI implantável, pois tinha miocardiopatia hipertrófica e arritmia cardíaca. Durante o procedimento teve um AVC e chegou a ficar em coma, foram 42 dias de sofrimento até vir para casa. Quando completei 34 semanas o médico me deixou de molho no hospital por precaução. Fui para casa numa quarta, e na sexta ela nasceu de parto normal. Um mix de sentimentos. Aquela mistura de alegria e preocupação, pois ela precisou tomar banho de luz. Meu pai, ainda desacordado, escutou o médico falar sobre o nascimento da minha princesa, e dois dias depois saiu do coma. Vi minha filha e meu pai aprendendo juntos a falar e a andar. Ela sempre foi agarrada com ele. Nós o perdemos quando minha filha estava com sete anos.
Em janeiro de 2020 uma inundação sem precedentes acabou com nossos planos. O que podíamos, levamos para cima no escritório. Foi uma noite longa de muito medo e preocupações. Dormir foi impossível, mas tínhamos que manter a calma devido a nossa pequena, que na época não devia ter mais de um ano. Na manhã seguinte, pela altura que ainda estava com água sabíamos que tínhamos perdido todos os móveis que ficaram lá embaixo, além de outros itens que não deu para salvar. Quando a água baixou, nossa família nos ajudou a limpar e recuperar o que dava. Não tenho palavras para descrever a cena horrenda que encontramos.
Nossa casa teve que passar por uma reforma. A vontade era de sumir e nunca mais voltar. Recebemos doações, mantimentos, utensílios, móveis e muito carinho de todos que nos amam. O auxílio do governo nos ajudou a comprar o que faltava. Seis meses depois, retornamos para nossa casa. Nesse período ainda veio a pandemia de covid, que fez tudo parar. Sofrimento em dobro! Cidade, vizinhos, perdas, e a pandemia. Graças a Deus, o serviço do meu marido era considerado essencial, e assim, ele pode trabalhar, contudo, tomando todas as precauções, mas tendo muito medo do desconhecido.
Juntos, estamos vivendo com todos os cuidados necessários para proteção da família e amigos. Hoje concilio ser mãe, dona de casa e fazer alguns trabalhos da empresa. Nossos planos ainda são pelo menos construir uma casa em cima, ou se Deus permitir e prover, comprar uma casa num endereço que não tenhamos mais que ficar aflitos nas épocas de chuva.
Autora: Elizabeth 7º2